Quando pensamos na grandeza da história do Senhor dos Anéis, logo vem a mente as diferenças entre o livro e o filme. Algumas das mudanças foram mais estéticas, enquanto outras nunca conseguiremos perdoar. Muitas escolhas são defendidas por uma questão de ritmo, e para ser justo, os filmes teriam sido pelo menos o dobro do tempo sem essas edições. Isso que muitos fãs não entendem.
A dinâmica muda, por se tratar de outra mídia. Mas não é apenas isso que deixa os fãs com a pulga atrás da orelha, muitas vezes, e sim escolhas erradas sobre o que mudar ou deixar de fora.
Aqui está uma pequena lista de alguns dos mais frustrantes pedaços dos livros que Peter Jackson ignorou ao fazer sua trilogia O Senhor dos Anéis:
Merry e Pippin são simpáticos e alegres tanto nos romances quanto nos filmes, mas há uma mudança dramática entre os dois. Nos livros, Merry e Pippin são espertos e perceptivos: sabendo bem que Frodo estava em algum tipo de perigo e planejando fazer uma jornada maluca. Cientes de que eles iriam para o perigo, os teimosos amigos se recusaram a deixar Frodo sair sozinho (sim, Sam estava indo junto, mas sem o apoio deles, dificilmente conseguiriam chegar muito longe). Merry por exemplo tinha conhecidos pelo caminho, analisava mapas, fazia reconhecimentos e planeja situações.
Nos filmes, os dois são mostrados como hobbits desajeitados. Eles são apenas usados como alívio cômico em algumas partes. Acabaram entrando na jornada apenas porque estavam no lugar errado e na hora errada. Não deu justiça aos seus verdadeiros personagens, sua esperteza ou sua lealdade. Pode parecer uma pequena mudança, mas deu o tom para esses dois personagens e suas aparições para o resto dos filmes. Inclusive a maioria das trapalhadas do filme são protagonizadas pelos dois.
É incompreensível que o capítulo O Expurgo do Condado tenha sido deixado de fora dos filmes. Parece até estranho. Muitos fãs criticaram muito o filme por isso.
No final do livro do Retorno do Rei, último livro, Frodo, Sam, Merry e Pippin voltam todos para casa no Condado, descobrindo que ele mudou de maneira drástica. O Condado não escapou da guerra ileso, como estranhamente foi mostrado filme. Quando chegam, descobrem que Saruman (disfarçado de Sharkey) havia fugido de sua torre para o Condado para dominar a terra natal deles. Precisaram então travar sua própria batalha, sem o famoso Legolas matador de qualquer coisa que se move, o poderoso Gandalf e um anão enfurecido, Gimli, para lutar por eles.
O Expurgo do Condado representava os Hobbits aprendendo a enfrentar a tirania sozinhos, em uma batalha liderada por Frodo, estereotipado muitas vezes nos filmes como alguém frágil e dependente. Eles tiveram que lutar por sua terra natal com sua própria capacidade contra um inimigo que veio de surpresa. Este capítulo foi considerado vital por muitos e como uma alegoria do que aconteceu com a Grã-Bretanha após a Segunda Guerra Mundial. Inclusive é considerado como uma influência da guerra sobre Tolkien. O mais perto que chegamos deste capítulo é quando um vislumbre do futuro é mostrado - e, mesmo assim, fica muito longe do que poderia ser. É uma pena que essa parte tenha sido deixada de lado, embora Peter Jackson até hoje defenda sua escolha, de forma polêmica.
Nos filmes, nunca ficou claro que os elfos foram obrigados a partir, independentemente do resultado da guerra. Se Sauron vencesse, a razão para partir era óbvia. Mas mesmo se ele fosse derrotado, os destino dos elfos seria de deixar a Terra-média mesmo assim. O poder deles estava enfraquecendo e haviam ficado muito dependentes da energia fornecida por seus anéis para manter seus poderes. Se o um anel fosse destruído, então seus anéis também seriam. Não tiveram escolha.
O filme praticamente encobriu isso, mostrando os elfos fugindo quase como se estivessem desistindo da esperança pela batalha. Ficou a impressão que os elfos viam a batalha já como perdida, portanto, não valeria a pena ficar. Na verdade os elfos investiram muito em nas batalhas antes dessa, não fugiriam dessa vez, inclusive tinham grandes esperanças na vitória. Isso foi muito além da vontade deles. Precisavam partir para sobreviver e pronto.
Nos filmes, durante a batalha do Abismo de Helms, os lutadores sentem uma súbita sensação de esperança quando um exército dos Elfos chegam às suas portas. Eles não aparecem nos livros. Simplesmente não haviam elfos suficientes para fazer a diferença naquele momento. E mais uma vez, os Elfos estavam enfraquecendo há anos. Esta terra não poderia mais ser sua casa. Não entrariam em uma batalha por uma terra que não pertenceria mais a eles.
Outro ponto importante: os elfos estavam ativamente engajados em sua própria batalha nesse ponto do livro. Simplesmente para escaparem com vida. Então, eles realmente não tinham forças para apoiar, nem mesmo se estivessem dispostos a isso. Claro, no filme ,o momento foi uma das melhores partes da batalha. Um acerto estético de Peter Jackson. Mas ele poderia ter explorado outras possibilidades.
Tom Bombadil foi o maior personagem deixado de fora das adaptações do filme. Havia razões para isso, temos certeza (Ritmo, ter que explicar o personagem dele, etc), mas ainda dói. Tom Bombadil é uma força única no mundo do Senhor dos Anéis . Muitos argumentam que ele é um ser muito poderoso que se esconde perfeitamente como um louco e velho homem.
Existe até uma teoria de que o Tom era um Valar, ser mítico, semelhante a um anjo que pertencia à outra realidade, que migraram para essa realidade na "criação". Nos romances, ele foi um dos primeiros encontros que os Hobbits tiveram em sua jornada sozinhos. Esse encontro estranho acaba sendo extremamente importante mais tarde. Tom ajuda Frodo e seus amigos a escaparem do Velho Salgueiro-homem, espécie de árvore habitada por um espírito maligno que chegou a quase engolir Merry e Pippin. Após libertar os hobbits, ele leva os viajantes de volta para sua casa, para descansarem.
Frodo confiou tanto nesse homem que permitiu a Tom Bombadil inspecionar o anel - sim, aquele anel. O anel surpreendentemente não teve efeito em Tom Bombadil, nem mesmo quando ele ergue-o na altura dos olhos e o colocou no dedo mindinho.
Tom é um daqueles personagens que os fãs adoram debater. Ainda assim, não importa o que muitos achem dele, todos concordam que ele cuidou dos Hobbits e eles também aprenderam muito com ele. Sem mencionar os itens que eles ganharam com a ajuda dele, do qual falaremos em seguida.
Como acabamos de falar sobre Tom Bombadil e sua importância para a história, podemos também comentar outra razão pela ele é importante. Tom Bombadil é a razão pela qual os quatro Hobbits possuem Punhais do Ponente, mortais contra os Espectros do Anel.
Essas lâminas importantes foram dadas aos Hobbits por Tom após salvá-los novamente, dessa vez da influência de criaturas fantasmagóricas que aprisionavam suas mentes nas Colinas dos Túmulos.
Quando Merry esfaqueou o Rei Bruxo durante a Batalha dos Campos do Pelennor, ele enfraqueceu significativamente o inimigo usando um Punhal do Ponente, permitindo que Eowyn desse o golpe mortal. O foco deste momento nos filmes foi transferido para Eowyn, diminuindo o papel que Merry (e, portanto, das lâminas e Tom Bombadil).
Deixando a estética de lado: não achou estranho aquele exército de fantasmas simplesmente acabarem com a guerra toda em Gondor? Pois é, essa parte foi inventada pelo diretor, ou pelo menos parte disso tudo.
Nos livros, após serem recrutados, os mortos apenas ajudam a derrotar os navios que chegavam como reforços para o inimigo pelo sul. Após isso eles foram libertados do juramento para partirem em paz. Portanto, Aragorn e companhia chegam sem os mortos ao campo de batalha decisiva de Gondor. A guerra final foi muito mais difícil, conquistada pela força e coragem dos vivos.
Existiram muitos outros detalhes deixados de fora, como por exemplo: a coragem de Boromir enfrentando cem orcs sozinho para defender os hobbits antes de morrer, o fato de que a espada de Isuldur sempre esteve com Aragorn e não foi entregue por Elrond, o Olho de Sauron ser mais uma presença do que o olho de fato em cima da torre, pois ele já estava em sua forma física, a idade de cinquenta anos de Frodo, que não era exatamente um jovem quando começou a jornada, entre outras coisas.
A verdade é que adaptações de livros sempre serão complicadas, ainda mais de um clássico tão cheio de detalhes, estudado incansavelmente até hoje em forums e clubes mundo a fora, tamanha a riqueza das histórias. A pergunta que fica é: será que é possível adaptar algo fiel aos livros? Não sei se precisa. Talvez certa esteja a Amazon em apostar em uma história contida nos livros, mas que nunca foi contada completamente. Veremos.